apoio

AS CONCHAS ATRAVÉS DA HISTÓRIA

 por Cristina Koprick Sodré

Relacionadas a mitos e lendas da antiguidade, as conchas há muito despertam a atenção e o fascínio do homem.
Conta a mitologia grega que Afrodite (Vênus), a mais bela entre as deusas do Olimpo, surgiu do mar amparada numa grande concha de madrepérola, provavelmente da família Pectinidae.
Uma infinidade de conchas foi achada por arqueólogos nos túmulos dos faraós do Egito. Dizia-se, naquela época, que os deuses não descontavam da vida dos mortais os dias em que passavam coletando conchas.
Uma das conchas mais importante para os egípcios era a Cypraea. O nome científico Cypraea vem de Cyprus, a ilha onde nasceu Afrodite. Naquela época, as múmias tinham os olhos substituídos por Cypraeas, para que elas pudessem enxergar no “outro mundo”. Também na China, conta Marco Polo que quando morria o imperador, sua boca era preenchida com nove Cypraeas, assim ele teria dinheiro para as despesas em sua nova vida. Em Pompéia, na Itália, a Cypraea conhecida como a concha de Vênus, era usada pelas mulheres como amuleto contra a esterilidade. Nas Ilhas Ryukyu, no Pacífico, próximo ao Japão, a mulher ao dar a luz, segura em cada mão uma Cypraea tigris para ter um bom parto. Esta concha simboliza, ainda hoje, o sexo entre as populações ribeirinhas do Oceano Índico e do Mar Vermelho.
Outra concha, a Turbinella pyrum é considerada sagrada pelos hindus. Na liturgia diária, Brahamana, os religiosos seguram esta concha na mão esquerda ao recitar esta prece:

“Na boca desta concha está o Deus da Lua...
Nesta concha está o Chefe Brahamanos,
Este o motivo pelo qual adoramos a Sagrada Concha.
Glória a Ela, bendita por todos os Deuses, nascida no mar,
e carregada por Vishnu em sua mão...”


Spondylus princeps

No Império Azteca, conchas pintadas e transformadas em adornos eram oferecidas aos deuses.
Na Nova Guiné, Japão e outras ilhas, o som da concha Strombus servia para espantar os espíritos malignos, além de servir para o ritual de iniciação nos ritos sagrados.
Contam que um dos motivos causadores da invasão de Júlio César à Grã-Bretanha, no ano de 55 a.C., foi a obtenção de pérolas. Estas são produzidas pelas ostras, quando partículas indesejáveis entram dentro delas. Não podendo expulsá-las, as ostras as recobrem com nácar, transformando-as em pérolas.
A cor púrpura, a mais famosa de todas as tinturas produzidas pelos povos antigos, era obtida através dos moluscos da família dos Murex. A tinta era conhecida pelos povos neolíticos da ilha de Creta. A primeira constatação nos foi dada por Aristóteles. Entre os anos 300 a.C. a 150 a.C., o conhecimento do tingimento de tecidos era do povo fenício. Na célebre batalha naval de Actium (Cleópatra e Marco Antonio) as velas dos navios foram tingidas com púrpura. Os senadores romanos usavam togas tingidas de púrpura. Também os índios da América Central tingiam suas roupas com a púrpura.
Na Idade Média, no século IX, foi encontrado na cidade de Compostella (Espanha) o corpo de São Tiago, conhecido como o santo protetor contra as invasões mouras. Compostella era visitada por muitos peregrinos e este hábito dos romeiros era simbolizado por um bastão encimado por uma concha, Pecten jacobeus, conhecida como vieira ou concha de Santiago. A concha tornou-se o emblema da cidade e ainda hoje os peregrinos quando voltam para suas casas levam consigo pectens fixadas em roupas e chapéus. Atualmente esta concha é símbolo de uma grande marca de produtos petrolíferos, a Shell.
As conchas são procuradas pelos homens por seu valor, beleza, motivos sagrados ou místicos, mas também por serem uma importante fonte de alimentos. As ostras, mexilhões ou mariscos são moluscos de carne saborosa, rica em vitaminas, proteínas e sais minerais. Muitos efeitos medicinais são atribuídos a conchas. O “suco” de Haliotis é eficiente contra muitos vírus e bactérias como: Staphylococus, Steptococus e Salmonella. Em 1960 foi descoberto que o extrato das Tridacnas era um grande inibidor do câncer em ratos.
Muito ainda se tem para descobrir sobre o mundo fascinante das conchas. Diz um ditado popular: “Você não precisa ser louco para colecionar, mas isso ajuda”.

 

 

Glossário | Referências | Créditos | Copyright

© 2001 - 2024 Conquiliologistas do Brasil