por Ignacio Agudo

Que os moluscos constituem desde tempos ancestrais valiosa fonte de proteína animal na alimentação humana não é novidade para ninguém, sendo em conseqüência o item malacológico mais amplamente conhecido em nosso globalizado mundo atual.

Porém, e muito a pesar da sua evidente condição popular, resulta do maior interesse o conhecimento mínimo dos bastidores que caracterizam esta importante faceta da Malacologia em nosso país.

Uma análise sintética das nuances que envolvem as diversas artes e técnicas empregadas a nível nacional na exploração (captura e/ou coleta) das principais espécies de moluscos com interesse gastronômico e industrial – sejam estes de origem marinho (principalmente), terrestre ou de águas doces – ocorrentes no vasto e diversificado território marítimo e continental brasileiro, revela de imediato a básica existência de pelo menos duas (2) grandes categorias específicas, tanto a nível artesanal como industrial:

COMO RECURSO PESQUEIRO

1 – CEFALÓPODES PELÁGICOS ( LULAS )

Família LOLIGINIDAE

– Loligo sanpaulensis Brakoniecki, 1984 (= L. brasiliensis Blainville, 1823)
– Doryteuthis (= Loligo) plei (Blainville, 1823)

(A) Espécie sustenta atividades regionais de pescaria artesanal com “zangarilho” (peça de chumbo de forma cônica com varias pontas metálicas sem farpas na extremidade, lançada com linha-de-mão) e embarcação industrial de arrasto

Família OMMASTREPHIDAE

– Illex argentinus Castellanos, 1960 (B)

(B) Molusco de alta importância para o sustento de atividades regionais pesqueiras embarcadas industriais de arrasto

2 – CEFALOPODES BENTONICOS ( POLVOS )

Família OCTOPODIDAE

– Octopus vulgaris Cuvier, 1797 (Fig. 4) (C)

(C) Espécie capturada principalmente pela pesca embarcada de “arrasto de portas”, assim como a captura seletiva com “potes” (atividade importada do Mar Mediterrâneo); ainda apresentando alto potencial dentro do campo da Malacocultura Marinha, na zootecnia emergente “Octopodicultora”
< http://www.conchasbrasil.org.br/materias/malacocultura/mmarinha.asp >

3 – BIVALVES ( VIEIRAS )

Família PECTINIDAE

– Euvola (= Pecten) ziczac (Linnaeus, 1758) (D)

(D) Espécie capturada através da pesca embarcada industrial de arrasto

4 – GASTRÓPODES

Família VOLUTIDAE

– Adelomelon beckii (Broderip, 1836) (E)
– Zidona dufresnei (Donovan, 1823) (Fig. 5) (E)

(E) Produtos da pesca industrial de arrasto basicamente destinados a exportação, principalmente aos vizinhos países como Uruguai e Argentina

COMO RECURSO EXTRATIVISTA

Tecnicamente aplicado a toda atividade econômica produtiva baseada no método da extração ou coleta essencialmente manual de recursos (produtos) naturais não cultivados, geralmente sem uma preocupação com a conservação das espécies ou do meio ambiente (F), o Extrativismo perfila-se como o mais tradicional modo de exploração de Moluscos conhecida no Brasil, desde os primitivos tempos dos Sambaquis, por volta de 6.500 anos atrás.

 

(F) Casos que ilustram o nocivo efeito de praticas extrativistas “mau conduzidas e desmedidas” sobre populações específicas de moluscos marinhos (neste caso Bancos Naturais de Ostras Madrepérola) são bem conhecidos desde os tempos coloniais.

Fontes de imediato interesse na internet:
– http://jpe.library.arizona.edu/volume_6/Romero99.pdf
– http://www.clt.astate.edu/aromero/~century.pdf

Não por acaso, a partir do ano de 1992 nascem legalmente no Brasil as denominadas “Reservas Extrativistas (RESEXs)”, sendo a denominada “Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé” (com sede Florianópolis, Ilha de Santa Catarina) a primeira deste tipo instituída, visando regulamentar justamente a pratica tradicional da captura artesanal, por catação manual, do bivalve Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791), mediante planos de manejo.

1 – BIVALVES MARINHOS

Família ARCIDAE
– Anadara brasiliana (Lamarck, 1818)

Família CARDIIDAE
– Trachycardium muricatum (Linnaeus, 1758)

Família VENERIDAE
– Amiantis purpuratus (Lamarck, 1818)
– Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791)
– Tivela mactroides (Born, 1778)
– Tivela ventricosa (Gray, 1838)

Família PSAMMOBIIDAE

– Sanguinolaria cruenta (Lightfoot, 1786)

Família DONACIDAE
– Donax hanleyanus Philippi, 1842

Família MESODESMATIDAE
– Mesodesma mactroides Deshayes, 1854

Família MYTILIDAE
– Mytella charruana (d´Orbigny, 1842)
– Mytella falcata (d´Orbigny, 1842)
– Perna perna (Linnaeus, 1758)

Família OSTREIDAE
– Crassostrea brasiliana Lamarck, 1819
– Crassostrea rhizophorae (Guilding, 1828)
– Ostrea puelchana d´Orbigny, 1841
– Ostreola (= Ostrea) equestris (Say, 1834)

2 – BIVALVES DE ÁGUA DOCE

Família MYCETOPODIDAE
– Anodontites spp (K)

Família HYRIIDAE
– Castalia spp (K)
– Diplodon spp
– Prisodon spp (K)

(K) Sub-produtos obtidos destas conchas na região amazônica, principalmente: cortadas em discos ou moedas (Fig. 8), utilizadas na confecção de botões de madrepérolas; artesanato, na confecção de brincos, colares e pulseiras, entre outros adereços de embelezamento corporal.

3 – GASTROPODES MARINHOS

Família STROMBIDAE
– Strombus goliath Schröter, 1805 (Fig. 9) (M)

(M) Classificada como “espécie sobreexplorada, pescada ou capturada acima da sua capacidade natural de renovação” na Lista Brasileira da Fauna Ameaçada de Extinção, através da Secretaria Permanente de Espécies Ameaçadas de Extinção e de Espécies Sobreexplotadas ou Ameaçadas de Sobreexploração, vinculada à “Comissão Nacional da Biodiversidade – CONABIO”
< http://www.mma.gov.br/ascom/ultimas/index.cfm?id=2077 >

Família CASSIDIDAE

– Cassis tuberosa (Linnaeus, 1758)

Família VOLUTIDAE
– Voluta ebraea Linnaeus, 1758

Família OLIVIDAE
– Olivancillaria vesica auriculata (Lamarck, 1810) (Fig. 10)
– Olivancillaria urceus (Röding, 1798)

Família TROCHIDAE
– Tegula viridula (Gmelin, 1791)

Família THAIDIDAE
– Stramonita (= Thais) haemastoma (Linnaeus, 1767) (N)

(N) Consumido principalmente nas áreas de “Fazendas Marinhas”, como sub-produto conseqüente da Malacocultura praticada com Ostras e Mexilhões

4 – GASTRÓPODES TERRESTRES

Família MEGALOBULIMIDAE

– Megalobulimus ssp. (Fig. 11) (P)

(P) Malacocultura Continental

LEIA TAMBÉM:
– Gastropoda < http://www.shellmuseum.org/GastropodsLeal.pdf > (link externo)
– Bivalvia < http://www.shellmuseum.org/BivalvesLeal.pdf > (link externo)

Referências:

ANÔNIMO. 1997. Caracol ibi e nativo e criado com facilidade / Caramujo e cozido e depois assado. São Paulo, SP: Jornal “O Estado de São Paulo”, Suplemento Agrícola, 16 de Abril de 1997.
ANÔNIMO. 2004. Captura de polvos com potes plásticos. São Paulo, SP: Revista “Pesquisa FAPESP”, No. 97, Março 2004, p. 62.
BOFFI, Alexandre Valente. 1979. Moluscos brasileiros de interesse médico e econômico. São Paulo, SP: Editora Hucitec, 1979, 182 p.
CECCA – Centro de Estudos Cultura e Cidadania. 1996. Uma cidade numa ilha: relatório sobre os problemas sócio-ambientais da Ilha de Santa Catarina. Florianópolis, SC: Editora Insular, 248 p.
CECCA – Centro de Estudos Cultura e Cidadania. 1997. Unidades de Conservação e Áreas Protegidas da Ilha de Santa Catarina: caracterização e legislação. Florianópolis, SC: Editora Insular, 160 p.
DISCONZI, Gislaine M. S. 2003. Populações tradicionais e manejo dos recursos naturais em reservas extrativistas. Rio de Janeiro, RJ: Resumos XVIII Encontro Brasileiro de Malacologia – EBRAM, 21 a 25 de Julho de 2003, pp. 38-39.
GASPAR, Madu. 2000. Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Ed., 89 p.
LEITE, R. U.; TOMÁS, A. R. G. & SANTOS, S. B. 2002. Morfologia radular de Octopus cf. vulgaris Cuvier, 1797 (Cephalopoda: Octopodidae) do litoral Sudeste e Sul do Brasil (23º -29º S). São Paulo, SP: Programa, Resúmenes y Anales V Congreso Latinoamericano de Malacologia, 30/06 a 04/07 de 2002, pp. 183-184.
MATOS, Edilson. 2005. Utilização e produção de bivalves pelas populações amazônicas como alternativa econômica. Rio de Janeiro, RJ: Resumos XIX Encontro Brasileiro de Malacologia – EBRAM, 25 a 29 de Julho de 2006, pp. 144-145.
MORRETES, Frederico Lange de. 1954. Sobre Megalobulimus paranaguensis PILSBRY & IERING. Arquivos do Museu Paranaense, Curitiba, 10: 343-344.
NUNES, Camilla G.; ARAÚJO, Carla Medeiros y & MAGALHÃES, Aimê R. M. 2003. Ciclo reprodutivo e manejo do berbigão Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) (Bivalvia: Veneridae) na Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé (REM do Pirajubaé), Florianópolis, SC. Rio de Janeiro, RJ: Resumos XVIII Encontro Brasileiro de Malacologia – EBRAM, 21 a 25 de Julho de 2003, p. 287.
OLIVEIRA, Maury Pinto de & ALMEIDA, Marcelo Nocelle de. 2000. Malacologia. Juiz de Fora, MG: Editar Editora Associada, 216 p.
PAIVA, Melquiades Pinto (Coord.). 1997. Recursos Pesqueiros Estuarinos e Marinhos do Brasil. Fortaleza, CE: UFC Edições, 278 p.
Poli, C. R.; A. T. B. Poli, E. Andreatta & E. Beltrame (Orgs.). 2004. Aqüicultura: experiências brasileiras. Florianópolis, SC: Multitarefa Editora Ltda., 456 p.
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