CALYPTRAEIDAE

 

Características gerais: Os Calyptraeidae, juntamente com os Capulidae, são classificados por alguns autores na superfamília Calyptraeacea. São gastrópodes pateliformes com o ápice da concha espiralado. Em geral, possuem hábitos sedentários e alimentam-se por filtração, possuindo cavidade do manto adaptada para essa função, com brânquias providas de longos prolongamentos filiformes revestidos com cílios e grande produção de muco. A reprodução também está relacionada com os hábitos sésseis; muitas espécies são hermafroditas protândricas, mudando de sexo durante o desenvolvimento, passando de machos pequenos a fêmeas grandes (Kay, 1979).

Os Calyptraeidae são caracterizados por possuirem conchas pateliformes cônicas, altas ou baixas, providas de uma projeção interna, de posição e formato variáveis. São moluscos filtradores e incubam os ovos (Kay, 1979).

Quatro gêneros de Calyptraeidae ocorrem no Brasil (número de espécies entre parênteses): Bostrycapulus (1), Calyptraea (1), Crepidula (4) e Crucibulum (2).

Collin (2005) verificou que Crepidula aculeata é formada por um complexo de espécies, melhor alocadas no gênero Bostrycapulus (combinação já proposta por Simone, 2002), considerou B. aculeatus a espécie distribuída desde a Flórida até o norte do Caribe, e descreveu quatro novas espécies, uma delas ocorrente no Brasil, B. odites Collin, 2006, distribuída no Atlântico oeste desde São Paulo (Brasil) até Puert Madryn (Argentina) e também no Atlântico leste, na costa sul da África, desde Natal até Cape Town e Port Elizabeth. Entretanto, o “status” das populações brasileiras de “Crepidula aculeata” encontradas ao norte de São Paulo ainda não foi definido.

Simone (et al. 2000, 2002 e 2006) realizou estudos na família, considerou C. protea espécie válida (Cuba ao Uruguai) e descreveu três espécies novas do complexo Crepidula plana para o Brasil: Crepidula carioca Simone, 2006 (Rio de Janeiro); C. intratesta Simone, 2006 (Bahia ao Rio Grande do Sul); e C. pyguaia Simone, 2006 (Santa Catarina). Considerou Crepidula plana Say, 1822 restrita à costa norte-americana, desde a Carolina do Norte até a Flórida. Entretanto, como não incluiu no estudo exemplares de “Crepidula plana” da costa brasileira ao norte da Bahia, ficou faltando resolver o “status” dessas populações.

Características da concha:

Chave para as espécies de Calyptraeidae do Brasil (original, Vanin, 2007)

1. Projeção interna da concha (= septo) cônica, em forma de taça ou funil
1’. Projeção interna da concha em forma de plataforma, apenas região posterior da margem livre
2 (1). Projeção ligada pela base ao ápice interno da concha, resultando em margens totalmente livres; concha com margens crenuladas
2’. Projeção ligada pelo lado ao ápice interno da concha, resultando em 2/3 das margens livres; concha com margens lisas
3(1). Concha cônica com ápice central, em forma de chapéu chinês
3’. Concha não-cônica e com ápice anterior
4(3’). Concha auricular, com costelas providas de espinhos ou escamas salientes
4’. Concha oval a oval-alongada, sem costelas, escamas ou espinhos
5(4’). Plataforma interna plana ou côncava
5’. Plataforma interna convexa
6(5). Concha achatada, completamente branca
6’. Concha convexa, rosa , bege, castanho-claro ou esbranquiçada com áreas rosa, bege ou castanho-claro
7(5’). Concha com perióstraco marrom claro persistente, cobrindo maior parte da concha; concha plana, encontrada sobre substratos duros
7’. Concha com perióstraco marrom claro decíduo; concha plana nos indivíduos menores, nos indivíduos maiores geralmente torcida devido ao hábito de vida no interior de conchas mortas de moluscos

Meio ambiente: As espécies brasileiras de Crepidula foram encontradas vivendo no interior de conchas vazias ou paguradas de gastrópodes, ou mais raramente de bivalves (C. intratesta), sobre rochas da região entre-marés (C. pyguaia), desde a região entre-marés até cerca de 48 m de profundidade (C. carioca), ou sobre substratos duros, geralmente a face externa de outras conchas de moluscos, desde a zona entre-marés até 125 m de profundidade (C. protea). (Simone, 2002, 2006).

Gêneros no Brasil:

Fig.1: Crepidula spp. que acaba de se fixar a um substrato. 1mm de comprimento.

Referências:

  1. Collin, R. 2005. Development, phylogeny, and taxonomy of Bostrycapulus (Caenogastropoda: Calyptraeidae), na ancient cryptic radiation. Zoological Journal of the Linnean Society 144: 75-101.
  2. Kay, E.A. 1979. Hawaiian Marine Shells, , xviii + 652 p. Bishop Museum Press, Honolulu.
  3. Simone, L.R.L. 2002. Comparative morphological study and phylogeny of representatives os the Superfamily Calyptraeoidea (including Hipponicoidea), (Mollusca, Caenogastropoda). Biota Neotropica 2: 1-137.
  4. Simone, L.R.L. 2006. Morphological and phylogenetic study of the Western Atlantic complex Crepidula plana complex (Caenogastropoda, Calyptraeidae), with description of three new species. Zootaxa 1112: 1-64.
  5. Simone, L.R.L.; Pastorino, G. & P.E. Penchaszadeh. 2000. Crepidula argentina (gastropoda:Calyptraeidae), a new species from the littoral of Argentina. Nautilus 114: 127-141.