HIPPONICIDAE

Características gerais: A família Hipponicidae reúne espécies com conchas pateliformes, geralmente em forma de gorro francês. Possuem perióstraco em geral espesso, fibroso ou semelhante a uma pelagem macia. A impressão interna do músculo é em forma de ferradura, com abertura anterior, oposta ao ápice espiralado da concha . São sedentários e muitas espécies secretam uma base calcária, sobre a qual o animal permanece fixado, sobre rochas ou conchas de outros moluscos. Muitas espécies alimentam-se por filtração, dispondo de brânquias com filamentos longos e ciliados, enquanto outras capturam detritos ou pelotas fecais de outros animais, alcançados por meio de probóscide longa, e fragmentados pela rádula. Algumas espécies são hermafroditas protândicas, enquanto outras possuem sexos separados. Os ovos são incubados em cápsulas ovais transparentes, protegidas no interior da cavidade do manto. Algumas espécies possuem fase larval de véliger, porém breve, podendo viver no plâncton por um período de poucas horas até uma semana. Em algumas espécies, o macho é menor, fixa-se sobre a concha da fêmea ou nas proximidades (Abbott, 1974; Kay, 1979; Rios, 1994).

Simone (2002) realizou um estudo extenso sobre a morfologia e filogenia dos Calyptraeoidea e Hipponicoidea, incluindo espécies brasileiras. Com base na análise filogenética realizada, o autor transferiu a espécie Capulus incurvus para o gênero Hipponix e para a família Hipponicidae.

Características da concha:

Chave para as espécies de Hipponicidae do Brasil (original, Vanin, 2006)
1. Concha com uma projeção interna (septo) em forma de casco de cavalo, presa pela base ao ápice interno da concha, e com margens inteiramente livres
1’. Concha sem projeção interna
2 (1). Concha com abertura aproximadamente circular; ápice espiralado voltado para o lado; espécies de águas rasas, encontradas sobre rochas ou conchas de outros moluscos vivos ou mortos
2’. Concha com abertura oval-alongada, mais estreita posteriormente; ápice espiralado voltado para baixo e para trás; espécie de águas profundas e encontrada presa a espinhos de ouriços
3 (2). Concha unicolor, branca ou amarelada
3’. Concha com manchas mais escuras contrastantes, no lado externo e/ou interno
4 (3). Concha com numerosas lamelas concêntricas proeminentes e providas de finos sulcos radiais
4’. Concha com cordões radiais cruzados por linhas de crescimento irregulares, formando superfície reticulada
5 (3). Concha com 36 a 40 costelas radiais proeminentes; concha creme a marrom claro, interior branco ou marrom
5’. Concha com mais de 40 costelas radiais cruzadas por cristas concêntricas, formando pequenos nódulos nas intersecções; concha marrom-alararanjado

Meio ambiente: As espécies de Hipponicidae vivem desde a zona de marés até profundidades em torno de 250 metros. Fixam-se em pedras e outros substratos sólidos, até mesmo conchas de outros moluscos. Estas espécies normalmente localizam-se próximas ao canal sifonal onde podem aproveitar dos dejetos espelidos por seu hospedeiro. Espécies de águas profundas como Hipponix climax são encontradas presas em espinhos de ouriços sobre uma base calcárea.

Gêneros no Brasil:

Cheilea
Hipponix

 

 

 

Exemplares de Hipponix climax sobre os espinhos de ouriço-do-mar dragado a 260 m de profundidade, ao largo de Fortaleza, CE (Banco Canopus)
Hipponix climax
Hipponix climax

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As espécies de Hipponicidae reconhecidas por Simone (2002) para o Brasil são:
– Cheilea equestris (Linnaeus, 1758)
– Hipponix leptus Simone, 2002, considerada anteriormente como Hipponix antiquatus (Linnaeus, 1767), espécie restrita ao Oceano Pacífico.
– Hipponix costellatus Carpenter, 1856, considerada anteriormente como Hipponix grayanus Menke, 1853, espécie restrita ao Oceano Pacífico.
– Hipponix subrufus (Lamarck, 1819)
– Hipponix incurvus (Gmelin, 1791), transferida de Capulus, e denominada anteriormente Capulus incurvus ou C. incurvatus.
– Hipponix climax Simone 2005

Rios (1994) assinala, ainda, para o Brasil a seguinte espécie:
– Hipponix benthophilus (Dall, 1889)

Referências:

Abbott, R.T. 1974 (second edition). American Seashells, 663 p. Van Nostrand Reinhold Co, New York.
Kay, E.A. 1979. Hawaiian Marine Shells, , xviii + 652 p. Bishop Museum Press, Honolulu.
Rios, E. C. 1994 (segunda edição). Seashells of Brazil, 368p, 113 pls. Editora FURG, Rio Grande.
Simone, L.R.L. 2002. Comparative morphological study and phylogeny of representatives of the superfamily Calyptraeoidea (including Hipponicoidea) (Mollusca, Caenogastropoda). Biota Neotropica 2 (2): 1-137.