Iniciando uma coleção

Quem quando era criança nunca pegou conchinhas na praia!
Sua beleza atrai muito as pessoas e isso já ocorre a milhares de anos. Suas cores e formas cedo ou tarde despertam maior interesse e fazem com que se procure saber mais, e é aí que se inicia a coleção.
As maiores e melhores coleções do mundo tiveram seu início nas mãos de colecionadores amadores. Elas se tornaram tão grandes que apenas um museu poderia abrigá-las. Ainda hoje muitos colecionadores doam em vida suas coleções para grandes instituições.
Como até hoje nenhuma teoria foi comprovada quanto a real função das cores e formas de muitas conchas, gostamos de acreditar que são uma dádiva. Suas cores e formas são a mais pura arte criada pela natureza, com o exclusivo objetivo de nos maravilhar.

A seguir vamos abordar os principais pontos relacionados a uma coleção:

 

Como iniciar uma coleção

A maior parte das coleções se inicia de forma bastante ingênua. É uma evolução natural daquelas poucas conchas coletadas nas praias durante nossas viagens, ou adquiridas em lojas de souvenires. Outros se apaixonam e desenvolvem mais interesse quando visitam uma coleção em um museu ou de um amigo. Outros ainda herdam o interesse de algum parente. Após a faísca inicial, é normal o colecionador procurar o contato com outras pessoas com o mesmo interesse, para desenvolver suas idéias e adquirir maior conhecimento. Esta é a melhor maneira de começar a colecionar, procurar uma entidade. Todas costumam manter reuniões periódicas, onde você vai adquirir conhecimento.
Assinar uma revista especializada e adquirir livros é uma maneira de conhecer todas as possibilidades existentes em uma coleção, a partir de onde cada pessoa desenvolve uma preferência.

O passo seguinte é a coleta do próprio material. Normalmente se aprende a coletar acompanhando pessoas mais experientes. A coleta nunca deve ser excessiva, apenas colete um ou dois espécimes para a sua coleção, outro par para troca ou para depositar no seu museu local.
Comprar material de vendedores estabelecidos é uma das práticas mais comuns quando você está à procura de exemplares de outros países ou espécies mais raras.

Após um período de desenvolvimento do conhecimento e dos rumos de sua coleção, é hora de expandir seus horizontes. Agora é necessário interagir com colecionadores de outros países. Aquele excedente de material das suas coletas é trocado com colecionadores do outro lado do mundo. A permuta, ou troca, é uma maneira bastante barata de aumentar a sua coleção.

 

Tipos de coleção

Da mesma maneira que as pessoas desenvolvem o interesse por colecionar selos, canetas, cartões etc, em uma coleção de conchas é possível desenvolver vários temas. Nem todos gostam de transformar sua coleção em algo muito sério. Buscam apenas o prazer de possuir aquelas peças mais bonitas, mais exóticas ou as mais coloridas. Outros mais avançados relacionam tudo o que pertence a uma determinada família, e procuram preenchê-la como um álbum de figurinhas. Alguns colecionam apenas conchas terrestres, apenas marinhas, uma determinada família ou gênero, apenas conchas brancas ou vermelhas, sinistras, albinas, brasileiras e até apenas os opérculos.
Alguns colecionam micro-conchas e só se pode admirar suas cores e esculturas sob um microscópio.

Quando o objetivo é uma coleção de referência ou científica é comum a coleção por lotes, que significa adquirir exemplares dos vários pontos onde aquela espécie ocorre, ou seja, pode ser encontrada. Um exemplo é possuir exemplares do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, um de cada estado, onde a espécie ocorre.

Nas coleções científicas não apenas a concha é preservada, mas todo o animal. São as coleções úmidas, onde as conchas ainda com animal são preservadas em álcool e são usadas para estudos morfológicos.

 

Classificação

Geralmente o material comprado de comerciantes ou adquirido através de trocas já vem classificado, mas e todo aquele material adquirido através de suas coletas ou de pescadores locais. Para isso é necessário possuir livros, revistas científicas e informativos. Os livros básicos para um colecionador vão depender do rumo da coleção e interesse do colecionador. Para aquele que não tem interesse específico, existem livros que abordam todas a principais famílias e espécies, são os genéricos. Já, quando o colecionador tem interesse por apenas alguma família em particular, um livro que aborde apenas aquela família é o mais aconselhável. Assinar uma revista ou manter contato com uma entidade local, também ajuda a manter-se atualizado com as novas descobertas ou alterações. Para aqueles que moram em regiões onde exista um museu com uma coleção malacológica, é uma ótima opção para comparar e classificar seu material.

Os livros que consideramos essenciais para iniciar uma coleção são: – Para espécies brasileiras: ‘SeaShells of Brazil’, do Prof. Eliézer de Carvalho Rios; – Para espécies estrangeiras: ‘Compendium of SeaShells’, de R.Tucker Abbott e S. Peter Dance; ‘The Encyclopedia of shells’, de Kenneth R. Wye; ‘Tropical Landshells of the world’, de Brian Parkinson, Jens Hemmen e klaus Groh
Como organizar

Um eterno problema para colecionadores está em como organizar e armazenar sua coleção. Algumas coleções ficam tão grandes que é necessário um cômodo da casa para guardá-la. Uma das melhores maneiras que guardar a coleção é construindo armários específicos. O uso de bandejas ou gavetas está entre os mais populares. Mas como muitos não possuem espaço, utilizar-se de caixas de sapato ou de camisa é uma solução barata e prática. As peças maiores, que sempre ocupam bastante espaço, e consomem um espaço precioso nas gavetas, costumam ser mantidas em vitrines ou prateleiras.
Geralmente mantêm-se as famílias separadas em cada bandeja e as bandejas organizadas por ordem filogenética.
A organização interna das gavetas ou bandejas também é importante. Para evitar que as peças se misturem na gaveta ou rolem, podem ser utilizadas divisórias. O uso de caixas de papelão, acrílico, plástico ou divisões de madeira são as melhores opções. Para a coleção de micro-conchas, existem pequenas caixas de acrílico transparente, com tampa, que evitam perder conchas do tamanho de grãos de areia. Alguns modelos de caixas possuem até uma lente de aumento já acoplada à tampa.

Via de regra é sempre bom manter a coleção abrigada da luz excessiva e pó, o que evita a perda de coloração ou brilho de muitas espécies.

Como registrar

A maior parte dos colecionadores mantém registro das espécies que possui. Existem várias maneiras de manter um registro da sua coleção, o que normalmente é composto de duas partes: o registro e a identificação.

O registro é o conjunto de informações sobre a concha. É composto de um número de registro seqüencial ou código, nome da família, gênero da concha, nome específico da espécie, local de coleta, data de coleta, profundidade ou altitude, quem coletou, tamanho, condição geral da espécie e informações sobre a ecologia entre outros. Este registro pode estar em um livro de registros, um cartão ou em meio eletrônico, como um banco de dados.

Na identificação, é feita uma conexão da informação do registro com a concha. Neste caso apenas uma reduzida quantidade de informação é fornecida, apenas para uma rápida identificação. O uso de etiquetas ou numeração na concha são as mais populares. A etiqueta que fica com a espécie deve conter informações mínimas como: número de controle, nome da espécie e local de coleta simplificados.

Para aqueles que procuram estudar de uma maneira mais completa e séria, quanto maior o número de informações coletadas melhor.

O número de registro é marcado em cada concha do lote como uso de nanquim. Com este método é possível rapidamente separar conchas misturadas. Uma desvantagem é ter que fazer uma consulta aos registros para obter suas informações. É eficiente se utilizado junto a uma etiqueta.
Com uma etiqueta colocada junto à concha é rápido e fácil visualizar o nome da espécie. Com este tipo de arranjo consegue-se uma boa apresentação visual da coleção.
A utilização de um banco de dados como o Access para armazenar as informações é o método mais utilizado hoje em dia. No exemplo acima até mesmo uma foto da espécie está vinculada ao registro. As etiquetas são impressas diretamente do programa no formato desejado.

 

Como conservar

A primeira regra é limpar bem a concha antes de adicionar a coleção. Conchas com resto de animal além de produzir mau cheiro podem com o tempo danificar a concha e outras ao seu redor. Outro principal cuidado é evitar a exposição à luz e a poeira, o que evita a perda das cores e brilho. A luz do sol incidindo na concha provoca o seu descoloramento e em alguns casos o aquecimento produzido pode provocar trincas. A poeira que se acumula e a umidade cria um ambiente que pode favorecer o aparecimento de fungos, que gera gases ou compostos ácidos que irão corroer a concha. Deve-se também evitar locais muito quentes. Alguns colecionadores sugerem que não se utilize certos tipos de madeira, espumas ou tecidos em contato com a concha. Estes materiais com o tempo produzem vapores ácidos que atacam a concha, produzindo o que chamamos de ‘doença de Byne’, uma espécie de penugem que recobre a concha, que nada mais é que a corrosão do calcário da concha.

O uso de óleo mineral regularmente também ajuda na proteção e acentua as cores naturais da concha.

 

Qualidade do material

Em Museus a qualidade da concha não é muito importante, o que conta mais é a representatividade da espécie. Já os colecionadores, como montam suas coleções para seu deleite, costumam se importar bastante com a qualidade ou aparência visual da peça. Um paralelo seria um colecionador de selos, que não tem interesse por selos rasgados ou carimbados.

Como na maioria das vezes a qualidade da concha esta relacionada ao seu preço, assim muitos colecionadores adotam um padrão de aceitação entre qualidade e preço para adquirir as peças.
Algumas exceções são feitas quanto se trata de espécies extremamente raras, principalmente quando o próprio colecionador consegue coletar, que passam a fazer parte da coleção até que uma peça de melhor qualidade seja adquirida.

Existe um padrão de avaliação da qualidade das peças que é aceito e utilizado em todo o mercado, que embora subjetivo, é um bom indicador da qualidade da concha. Ele é baseado em letras, que recebem notas como uma prova escolar, como segue:

G (Gem) – concha considerada perfeita, sem partes quebradas ou cicatrizes;
F++(fine++) – concha quase perfeita com um ou dois defeitos que não comprometem a aparência geral da concha;
F+(fine+) – concha com algumas partes quebradas ou cicatrizes;
F (fair) – concha bastante danificada com furos, partes quebradas e cicatrizes profundas, normalmente foi coletada morta;
B (beached) – concha coletada morta na praia, que está descorada pela exposição ao sol e que está lixada pela abrasão com a areia
Existe alguma discussão quanto à qualidade de algumas conchas que possuem uma certa peculiaridade como o Caducifer atlanticus que perde as primeiras voltas de sua espira. Alguns classificam como sendo qualidade F, enquanto outros avaliam outros pontos da concha como ausência de cicatrizes e lábio perfeito e avaliam como F++.

Fig.1: exemplo de classificação de qualidade
Quanto custa

Existem conchas que valem desde US$1.00 até milhares de dólares. Você pode montar uma coleção enorme apenas com conchas de 1 dólar. Existem colecionadores que gastaram quase nada para montar coleções fantásticas apenas trocando material que tinham a mais e coletando sempre que viajavam. Para aqueles que dispõem de mais recursos, pode-se adquirir conchas de vários comerciantes estabelecidos em quase todos os países, quase todos aceitam pedidos por e-mail ou possuem carrinho de compras. Basta possuir cartão de crédito.
O preço das conchas varia de acordo com o seu tamanho, localidade de coleta e raridade. Uma mesma espécie pode custar entre $10.00 e $100.00, esta variação de preço depende do tamanho e da qualidade da peça.
Normalmente todos os comerciantes de conchas seguem valores de referência descritos em um manual editado por ‘Tom Rice ‘. Se você acha que uma concha é cara, pare para calcular todos os custos envolvidos: barco, mergulhador, equipamento de mergulho, transporte, combustível, limpeza etc…

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