por Ignacio Agudo
O quê fazer para controlar / eliminar efetivamente as indesejáveis e prejudiciais pragas de “naiades” que de improviso surgem em açudes e viveiros piscicultores, infestando ditos espaços e impregnando visível e severamente as guelras e corpo dos peixes neles cultivados??? …
Nestes últimos anos, temos assistido a um alarmante aumento na incidência desta situação (Agudo, 2005). A pergunta inicialmente ventilada vem sendo “insistentemente” formulada a nós por pessoas de diversos setores do âmbito nacional, resultando cada vez mais freqüente dita consulta em nosso meio.
Dita situação evidencia, entre outras, uma das múltiplas conseqüências relacionadas às “ações antrópicas” que vem sendo exercidas – muitas vezes em forma descontrolada e sem a devida atenção ao entorno ambiental – nas nossas bacias hidrográficas interioranas , visivelmente refletida neste caso na “inesperada ocorrência” infestante nos empreendimentos piscicultores de larvas parasíticas (Souza & Eiras, 2002; Agudo, 2005), frequentemente do tipo “Lasidium”, produzidas pela ocorrência geralmente “clandestina e indesejada” de bivalves límnicos ou de água doce, principalmente da espécie Anodontites trapesialis (Lamarck, 1819), destacado representante da Família MYCETOPODIDAE e Ordem UNIONOIDA, um dos nossos maiores bivalves límnicos nativos, popularmente conhecidos em geral como “Naiades” (Agudo, 2005), toda vez que as larvas “ectoparasíticas” de bivalves naiades, tanto “Lasidium” (Família MYCETOPODIDAE) como “Gloquidium” (Família HYRIIDAE), são “parasitos temporários” de peixes (hospedeiros temporários), apenas uma estratégia destes moluscos para sua sobrevivência e dispersão no meio ambiente natural, se tornando praga quando geradas em ambientes “fechados” (açudes, tanques, criatórios piscicultores, etc.).
Assim, a conseqüente solução inquirida resume-se apenas a execução de “roteiro protocolar” constituído pelos seguintes três (3) itens básicos de ação, medidas simples operacionais de PROFILAXIA:
MANEJO E CONTROLE DE PRAGAS DE BIVALVES LÍMNICOS “NÁIADE” EM AÇUDES E VIVEIROS
Bivalves naiades límnicos nativas Anodontites trapesialis (Lamarck, 1819)
Medida 1 – RETIRADA MANUAL “OBRIGATÓRIA” DE TODAS AS CONCHAS:
Esta operação – retirada manual de todas as conchas encontradas no fundo dos reservatórios piscícolas – deverá ser realizada imediato após a secagem dos mesmos, durante o processo de manutenção, limpeza e esvaziamento, devendo ser aplicada a seguir, ao lance, “cal viva” sobre o substrato e paredes do viveiro, visando “exterminar” possíveis larvas parasíticas isoladas e indivíduos naiades juvenis.
Resulta importante ressaltar que, particularmente, a espécie Anodontites trapesialis (Lamarck, 1819) funciona ainda como um organismo “hermafrodita”, podendo acontecer “autofecundação” em indivíduos – isolados ou não (Callil & Mansur, 2007), o que de alguma forma pode vir a “complicar” ainda mais a sua condição de praga, através do seu estádio larval “Lasidium”, nos empreendimentos piscicultores e/ou criatórios onde esta ocorra.
Conforme especialistas (Callil & Mansur, 2007), o ciclo reprodutivo desta espécie no Brasil, influenciado por condições sazonais climático-ambientais (… temperatura da água entre outros), ocorre justo entre os meses de “Abril a Julho”, especificamente na região de Mato Grosso – MT.
Reportes acerca da infestação de peixes criados em tanques por larvas “Lasidium” geradas por espécimes adultos do bivalve “propositalmente introduzidos” nos viveiros, entre os meses de Setembro e Novembro no território do Estado de São Paulo – SP, foram ainda recebidos por nós.
Bivalves naiades límnicos nativas Anodontites trapesialis (Lamarck, 1819)
Medida 2 – CERTIFICAÇÂO DA “SANIDADE FÍSICA” DOS PEIXES:
Depois de praticada a despesca no viveiro, deverão ser meticulosamente examinados e “descartados” (… longe dos corpos de água) todos os peixes visivelmente “contaminados” com ectoparasitos, assim como colocar em período de “quarentena” aquelas eventuais matrizes reservadas, sempre que apresentar uma aparência saudável.
Necessário manter um rigoroso controle no que respeita ao local de procedência e sanidade física dos novos peixes a serem introduzidos.
Medida 3 – CERTIFICAÇÃO DA “NÃO OCORRÊNCIA” DE MOLUSCOS:
Finalmente, resulta obrigatória a “prévia certificação” em todo tempo da não ocorrência destes moluscos nas fontes de água naturais normalmente utilizadas no preenchimento dos viveiros, assim como velar pela “não introdução” de espécimes destes animais nos locais destinados a criação de peixes ou de abastecimento de águas, sob hipótese nenhuma.
Realizar exames preventivos periódicos no local em geral, incluindo dragagens do fundo dos viveiros em uso, em períodos intercalados a “despesca”, e exames aleatórios visuais dos peixes assim cultivados.
Bivalves naiades límnicos nativas Anodontites trapesialis (Lamarck, 1819)
Em todo tempo, e ante a verificação de contaminação de algum viveiro, deverá ser ativado imediatamente o “roteiro/protocolo de ação” anteriormente apresentado, com o correspondente isolamento do local, visando assim à preservação profilática dos restantes espaços não atingidos pela referida “malacopraga”.
Referências:
- AGUDO, I. 2005. Praga de bivalves límnicos em açudes. São Paulo, SP: Conquiliologistas do Brasil – CdB, Outubro de 2005. Disponível em: <http://www.conchasbrasil.org.br/materias/pragas/limnicos.asp>.
- AGUDO, I. 2007. Moluscos na condição de pragas no Brasil. São Paulo, SP: Conquiliologistas do Brasil – CdB, Janeiro de 2007. Disponível em: <http://www.conchasbrasil.org.br/materias/pragas/visaogeral/default.asp>.
- CALLIL, C. T. & MANSUR, M. C. D. 2007. Gametogênese e dinâmica da reprodução de Anodontites trapesialis (Lamarck) (Unionoida, Mycetopodidae) no lago Baía do Poço, planície de inundação do rio Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 24(3): 825-840. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbzool/v24n3/a33v24n3.pdf>.
- SOUZA, Â. T. Silva & EIRAS, J. C. 2002. The histopathology of the infection of Tilapia rendalli and Hypostomus regani (Osteichthyes) by Lasidium larvae of Anodontites trapesialis (Mollusca, Bivalvia). Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 97(3): 431-433. Disponível na Internet: <http://memorias.ioc.fiocruz.br/973/4403.pdf>