Limpeza de conchas
A limpeza das conchas antes de serem adicionadas a sua coleção, é uma etapa importante que vai assegurar a longevidade de sua beleza e qualidade. A retirada das partes moles é muito importante para evitar a proliferação de insetos, que além de trazer mau cheiro, vai deteriorar a concha. A seguir serão descritos, em linhas gerais, os principais pontos que devem ser seguidos para assegurar uma preparação adequada do espécime.
Conservação do material coletado
A deterioração da concha pode começar logo após a morte e degradação do animal, quando os ácidos que se formam e atacam a concha, as vezes causando danos irreparáveis. Em viagens de coleta de vários dias é necessário conservar o material até que seja possível limpá-lo adequadamente. Os meios comumente usados são o álcool e o congelamento.
O álcool não ataca a concha e conserva as partes moles do animal desidratando-o, não permitindo que se deteriore. Ele possui a desvantagem de tornar as partes moles muito duras ou ‘borrachentas’ se usado com a concentração alta, o que faz com que a retirada do animal seja difícil. O ideal é utilizar uma mistura de alcool e água entre 20% e 50% dependendo do tempo necessário antes da limpeza e da graduação do álcool. Deixe o material imerso por um ou dois dias, drene o excesso, envolva as conchas com papel e apenas umedeça com alcool limpo. Assim as partes moles se conservam bem e não ficam duras.
O congelamento é uma ótima opção quando disponível. Ele conserva as partes moles sem deteriorar, não produz odores e ainda facilita a retirada das partes moles posteriormente. Não é aconselhável para alguns bivalves, porque trinca a concha (pincipalmente as que tem lamelas como Chione paphia ou Chione pubera) e para conchas muito finas como algumas espécies terrestres, já que com a expansão da água com o congelamento a concha não resiste à pressão interna produzida. Se a viagem de retorno for muito longa, é necessário conservar o material com álcool como descrito acima (apesar de o material resistir por um bom período congelado conforme o meio de transporte).
As espécies terrestres podem ser mantidas vivas durante o período de coleta, bastando colocar em um vasilhame com entradas de ar e alguma folhagem. Evite colocar água, apenas mantenha úmido. Devem ser posteriormente congeladas para facilitar a sua limpeza. Quando forem muito delicadas é melhor manter dentro de um pote com água e sabão neutro por um ou dois dias para tentar usar um jato de água para remover o animal.
Conchas muito pequenas (abaixo de 5 mm), podem ser colocadas em álcool puro por uma ou duas semanas para desidratar completamente o animal, e depois lavadas e colocadas para secar bem (à sombra).
Conservação com glicerina
A glicerina em solução com álcool é utilizada para conservar os Chitons. Como em muitos casos as partes moles são fundamentais para a identificação da espécie, e sua retirada geralmente deforma a concha, muitas pessoas não as removem. Elas devem ser mantidas em glicerina por algumas semanas e em seguida postas para secar em local arejado e ao abrigo do sol. O tempo de permanência em glicerina deve ser aumentado de acordo com o tamanho do espécime.
Se você prefere manter o Chiton sem a parte mole e ele está recurvado, deixe-o em glicerina por alguns dias para amolecer, depois mantenha-o na posição estendida com o auxílio de algum peso e deixe secar bem. Dificilmente ele voltará a ficar completamente plano, mas seu aspecto deve melhorar um pouco.
A glicerina também é utilizada para conservar o periostraco macio, principalmente os mais “peludos”. Ele deve ser aplicado após a lavagem da concha enquanto estiver molhada. Após a desidratação do periostraco a glicerina não tem o poder de recuperá-lo. Deve ser aplicado com alguma freqüência para melhor conservação.
Em algumas coleções, a conservação do periostraco dos bivalves de água doce é feita com vaselina líquida e até com uma pequena camada de graxa!
Limpeza das partes moles
A menos que se pretenda manter o animal para estudos de sua anatomia, as partes moles devem ser completamente retiradas. Quando não removidas completamente produzem mau cheiro, acúmulo de insetos e degradação da concha. Em conchas com brilho como Cypraea e Marginella qualquer resto de animal pode manchar o nácar de forma irreversível.
Gastropodes – Para retirar as partes moles devem-se utilizar algumas ferramentas como exploradores dentários (cureta), arames, agulhas ou até garfos dependendo do tamanho da concha. O ideal é que estas ferramentas tenham formato de gancho para segurar o animal e extraí-lo da concha. Deve-se segurar o animal pelo pé, parte mais externa do animal, e girar no mesmo sentido das voltas da concha.
Após remover completamente as partes moles, utilizar um jato de água para lavar a concha internamente e remover qualquer pedaços restantes. Utilize uma mangueira fina ligada a torneira. Posicione a concha contra uma lâmpada para certificar-se que está completamente limpa. Deve-se utilizar este processo até obter sucesso.
Algumas conchas de gastropodes possuem o opérculo. Após retirar o animal, com o auxílio de uma lâmina afiada cortar todas as partes moles aderidas a ele e reservar para colar posteriormente.
A maior parte do animal deve ser removida. Algumas partes que estão alojadas mais profundamente na concha e que são mais moles, normalmente se quebram e não podem ser ‘pescadas’. Posteriormente com um jato de água estas partes devem ser eliminadas.
Acondicione adequadamente as partes moles em saco bem fechado e jogue fora evitando o aparecimento de moscas. Caso o lixo tenha que permanecer por alguns dias, é aconselhável utilizar jornal para embrulhar o saco. Somente papel consegue segurar o odor – não adianta envolver com 20 sacos plásticos.
Bivalves – Com a conservação em alcool as valvas geralmente ficam ainda mais fechadas. O animal possui um ou dois músculos que mantém as valvas fechadas, assim para iniciar a limpeza estes músculos devem ser cortados. Deve-se utilizar uma lâmina bastante delgada, inserindo entre as valvas com cuidado para não quebrar as bordas (e não cortar seus dedos!), e deslizar por toda a extensão das valvas. Assim que os músculos são cortados pode-se perceber que as valvas se abrem. Aí é só raspar o resto de carne nos locais onde os músculos estão aderidos.
Dica: os bivalves são facilmente limpos, logo após a coleta mantenha-os em água doce por algumas horas ou durante uma noite para retirar o animal com facilidade. Geralmente as valvas se abrem rápido. Com os bivalves de água doce, mantenha por algumas horas fora da água e limpe em seguida.
Chitons – Algumas pessoas preferem mantê-los na coleção sem animal. Sua limpeza é bastante difícil e é necessária uma boa técnica e experiência para fazê-lo de maneira a não danificar o espécime. O maior problema está no fato do animal se enrolar como os ‘tatuzinhos de jardim’, é aí que normalmente se danifica a concha na tentativa de deixá-lo extendido. A preparação para limpeza se inicia logo após a coleta, quando deve-se utilizar uma das seguintes técnicas: levar a geladeira o animal em um pote de fundo plano somente úmido com água do mar, deixando passar a noite; ou estendê-lo logo após a coleta em uma superfície plana, colocar algumas folhas de papel sobre ele com algum peso, deixando passar a noite. Caso fique em um hotel com ar condicionado bastas deixar os animais em uma vasilha grande e plana só úmida com água salgada por uma noite. Se puder deixar em um lugar abrigado longe dos olhos de curiosos deixe por alguns dias. Após um destes procedimentos, utilizar uma lâmina para raspar as partes moles caso desejar. Se quiser preservar o animal mergulhe em álcool com glicerina (50%).
Scaphopodes – Não passam por esta fase para a remoção das partes moles, devido o acesso interno da concha ser muito pequeno. Apenas na lavagem é que as partes moles são retiradas com o auxílio do jato de água.
Microondas: Em alguns casos o uso do microondas pode ajudar na limpeza. Antes de tentar limpar tudo o que coletou faça alguns testes variando tempo e potência. Algumas conchas são lipas com facilidade, outras simplesmente podem “emborrachar”. O importante é nunca colocar uma concha que já esteja com o animal em putrefação, a menos que não se importe em ficar sem usar o aparelho por algumas semanas até que o cheiro saia.
Atenção: nunca cozinhe as conchas em água para retirada das partes moles. Isso além de endurecer o animal, promove a perda de coloração da concha e pode produzir trincas devido ao calor.
Limpeza química com Cloro (Hipoclorito de Sódio NaClO)
Materiais utilizados nesta etapa: água, cloro e potes plásticos diversos.
O cloro (na realidade Hipoclorito de Sódio – água sanitária é NaClO diluido e pode ser usado) tem o principal objetivo de remover o excesso da sujeira ou algas da concha. Deixando-se em cloro por algumas horas, serão removidas pequenas esponjas, corais moles, algas e até o periostraco se assim for desejado. Esta etapa facilita a limpeza mecânica posterior.
As conchas que não possuirem incrustrações que precisem ser removidas também devem passar por esta etapa. O cloro é um forte bactericida e germicida e vai limpar a concha totalmente. Ele é tão forte que vai dissolver até pequenas partes moles ainda no interior da concha.
Não deve ser utilizado cloro puro exceto se por poucos minutos para uma limpeza rápida. Normalmente é feita uma solução de água com cloro, variando a proporção dependendo do tipo de concha e do efeito desejado.
O tempo necessário para limpeza pode variar de uma a dez horas. Quando a concha naõ tem incrustrações alguns minutos apenas são sulficientes para higienizar a concha. Quando se pretende remover o periostraco, pode levar muito mais tempo. Não deve-se mantêr por dias a concha em cloro. O cloro depois de uma longa exposição ou em grandes concentrações pode alterar as cores ou o brilho de determinadas espécies.
Algumas conchas não devem ser colocadas em cloro. Conchas de moluscos terrestres e de água-dôce devem ser mantidos na coleção com o periostraco sempre que possível. Pode-se até fazer um banho em cloro por 5 minutos apenas para higienizar a concha e lavar com água em abundância em seguida. Os Chitons também não devem ser clorados. O cloro destroi a cinta externa que mantêm as placas unidas e dissolve os pequenos pêlos existentes entre as valvas que são importantes na classificação da espécie. As conchas de bivalves marinhos devem receber um banho de cloro de apenas alguns minutos, já que o cloro dissolve o ligamento das valvas. Algumas bivalves como Pinna podem ser dissolvidas caso fiquem por alguns minutos mergulhadas no cloro.
Mesmo as conchas coletadas já mortas na praia devem ser cloradas. Este banho remove areia e vestigios de alga e restos de animal.
Os opérculos não devem ser colocados no cloro. O cloro dissolve os opérculos do tipo queratinoso. Aqueles do tipo calcáreo podem ser clorados apenas para limpeza.
Consulte a tabela sobre as etapas aconselhadas para algumas famílias ou espécies específicas.
Imediatamente após a limpeza com cloro vêm a lavagem com água, que vai lavar o cloro e remover qualquer parte mole ainda no interior da concha. É importante a lavagem com abundância de água para remover os vestigios do cloro, caso contrário pode cristalizar na superfície da concha ou até mesmo danificá-la.
Algumas vêzes após a limpeza mecânica, observa-se que a concha possui uma coloração verde de algas que não foi eliminada pelo cloro por estar abaixo da camada de incrustações. Assim se faz necessário uma segunda cloragem. Ela não é tão prolongada como a primeira, deve ser entre 15 a 30 minutos. Deve-se lavar com água novamente após esta etapa.
Proibido: É aconselhável não utilizar qualquer tipo de ácido na limpeza da concha. O material calcário irá absorvê-lo e a corrosão continuará mesmo depois de bem lavada, causando no futuro a perda da concha.
Cuidados: Tome bastante cuidado com o manuseio do cloro. Use sempre roupas velhas ou um avental. Proteja os olhos para evitar respingos.
Lavagem
Materiais utilizados nesta etapa: mangueira fina, escova de dentes e detergente neutro.
Para produzir um jato forte adapte uma mangueira de aquário a uma ponteira de mangueira de jardim a fim de rosqueá-la diretamente na torneira. Se quiser um jato ainda mais fino coloque uma ponta tipo Waterpick ou adapte uma caneta Bic na ponta da mangueira.
O objetivo da lavagem é eliminar a areia ou lodo que ficam aderidos à ornamentação da concha. Eles não são eliminados pelo cloro, então utiliza-se uma escova de dentes macia.
Sempre que a concha for clorada deve-se lavar com água em abundância.
Outra parte importante da lavagem é o jato de água que é aplicado no interior da concha, que elimina restos de parte mole, que estão fora do alcance dos ganchos.
Para conchas terrestres e de água doce pode-se utilizar apenas este método de limpeza e caso necessário usar um pouco de detergente neutro para ajudar na remoção de terra ou outros detritos.
Se você pretende conservar o periostraco da concha, após a lavagem e antes de colocar a concha para secar, aplique uma pequena quantidade de glicerina misturada em álcool (50%) no periostraco para mantê-lo macio.
Após a lavagem, coloque a concha em um local abrigado do sol para iniciar a secagem.
Secagem
O ideal é deixar as conchas secarem à sombra, mas pode-se utilizar um desumidificador para acelerar o processo. Se você pretende manter as valvas dos bivalves fechadas, após a lavagem utilize um elástico ou enrole com uma linha as valvas para mantê-las fechadas antes de iniciar a secagem (não use linha colorida pois pode tingir a concha). Só produzirá bons resultados se o ligamento não estiver danificado .
Se você pretende manter o periostraco na concha, logo após a lavagem e antes de iniciar a secagem aplique a solução de glicerina e álcool sobre ele para que se mantenha macio.
Proibido: Nunca deve-se acelerar o processo de secagem por meio de aquecedores ou deixar a concha ao sol. Estes métodos danificam as cores da concha
Limpeza mecânica
Ferramentas utilizadas nesta etapa: Exploradores dentários (Cureta), escovas de aço e motores elétricos com pontas diversas (tipo Dremmel ou similar).
Após a cloragem restam apenas corais e cracas sêcas ainda aderidas a concha. Sua remoção as vêzes requer muita paciência e cuidado, para assim revelar a jóia escondida sob estas incrustrações.
Não utilize escovas de latão ou bronze. Esses materiais são muito moles e mancham a concha. Utilize apenas escovas de aço. As escovas de aço montadas em esmeril, não devem ser usadas a menos que sejam muito macias e usadas em conchas resistentes.
Tenha pelo menos algumas variações de brocas, umas grossas para remover as maiores partes e umas finas para dar o acabamento na limpeza. As melhores brocas são as de carbide utilizadas por dentistas. As brocas de gravação não são tão resistentes quanto as de dentista.
Colocação do opérculo
Materiais utilizados nesta etapa: algodão, cola branca comum e pinça.
Se desejar manter o opérculo original da concha preencha a abertura com algodão e cole o opérculo com cola branca comum. O opérculo é uma parte da concha importante. Muitas vêzes ele é quem determina a família, o gênero e as vêzes até a espécie. Para opérculos pesados é importante colocar bastante algodão e cola o suficiente para mantê-lo no lugar.
Dica: durante a limpeza observe a posição em que ele se encontra e direção.
Re-hidratação
Materiais utilizados nesta etapa: óleo mineral, glicerina, escova de dentes ou pincel.
Depois de todos estes processos de limpeza a coloração natural da concha pode ficar opaca. O uso de um óleo mineral tipo óleo Johnson, recupera e intensifica as cores da concha. Aplica-se com auxílio de um pincel ou escova de dentes, deixando-se escorrer o acesso sobre uma papel toalha.
Quando o periostraco não é removido, a lavagem faz com que o mesmo após seco fique todo quebradiço. Para mantê-lo, deve-se aplicar glicerina misturada com um álcool. Esta mistura deve ser aplicada enquanto o periostraco estiver molhado e macio.
Esta etapa não é necessária em conchas que possuem a superfície esmaltada como as cypraeas e as olivas. Sua superfície esmaltada não permite a absorção do óleo. Nestas conchas pode-se aplicar uma camada de silicone ou mesmo lustra móveis à base de silicone para criar uma película protetora contra poeira se desejado.
Aplicação de Parafina
Materiais utilizados nesta etapa: motor, disco de feltro e parafina
A parafina não é um método de conservação clássico mas algumas pessoas têm usado com bastante sucesso. Usado principalmente em conchas que por ação do tempo ou método de limpeza foram afetadas e a cor não é mantida somente com a aplicação de óleo.
Algumas peças coletadas mortas não muito danificadas tem boa recuperação do brilho e acabamento na superficie com este método.
Para aplicá-lo deve-se utilizar um disco de feltro ou pano. Antes de aplicar a parafina passe um pouco de óleo, e com rotação média no motor pressione contra uma barra de parafina e depois aplique na concha como se estivesse polindo. Para finalizar utilize um pano limpo e seco para retirar qualquer excesso.
Esta é a melhor forma de recuperar algumas espécies que foram afetadas por Mal de Byne (quando não totalmente destruídas).
(1) Comment
Carmen Maria
04/11/2024Amei!